sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Polícia em São Tomé

Viajar para África proporciona sempre momentos inesquecíveis e por vezes inacreditáveis. Como não podia deixar de ser, trago de lá alguns episódios engraçados.

Um deles aconteceu num dia em que me armei em "chico-esperto" e tentei orientar-me numa cidade que não tem luz nenhuma (são pouquíssimos os locais onde existem candeeiros ou luzes), cujas ruas não tem placa toponímica e cujo mapa que me tinha sido fornecido no hotel só tinha as ruas principais.

A cidade não é grande (anda-se bem a pé, de uma ponta a outra) mas é um pouco caótica: muita gente a andar de um lado para o outro a pé, de mota, de jeep no meio de uma escuridão quase total, provocando uma ligeira sensação de insegurança e desorientação...

Queriamos ir a um restaurante que não fosse turístico mas depois de percorrermos umas quantas ruas e ruelas, tinha passado (conscientemente) por umas cancelas (abertas) que não vinham assinaladas no mapa (claro!). Tinha acabado de entrar na área de comando policial de São Tomé, zona completamente reservada e proibída. Num pestanejar, tinha polícias fardados a saírem sabe-se lá donde, a empunhar metralhadoras não muito simpáticas. Saí logo do jeep com o mapa na mão, dizendo que me tinha perdido e que só queria achar um restaurante que me tinham aconselhado, que ficava mesmo ali ao pé. Como não podia deixar de ser, nenhum dos polícias ali presentes sabiam do restaurante, nem nunca tinham ouvido falar dele... Foram chamar outros e outros... nada. Parecia que o restaurante não existia, nem nunca tinha existido! :)

Passado uns minutos lá apareceram 2 polícias que disseram imediatamente que nos iam levar ao sítio que queríamos e acto contínuo, enfiaram-se dentro do carro... Bonito: ter 2 polícias fardados e armados, dentro do carro. Duas perguntas inundaram-me logo a mente: "para onde nos levam" e "como os vamos tirar do carro"?

Deixo aqui parte do interessante diálogo que mantivemos até chegarmos ao restaurante, que ficava a 2 minutos dali...

Polícia A: "Epá, você tem o vidro do carro muito sujo! Não dá para ver nada!", disse sorridente.
Eu: "Sim, está complicado. Não tenho água no limpa-vidros, por isso não consigo limpar!"
Polícia A: "Epá, isso dá multa!"
(Breve silêncio)
Eu: "Deve estar a brincar, não está!.... E agora, é por onde?", não dando tempo a que o polícia pudesse voltar novamente ao assunto. De seguida, indicou-nos o caminho que nos obrigava a fazer uma transgressão. Mas isso já era possível fazer... :)
Eu-tentando-fazer-conversa-para-mudar-de-assunto: "E lá no restaurante, come-se bem?"
Polícia B: "Eu? Sim, como. E como muito!"
Eu: "Ãh?... Er... bem, eu estava a perguntar se o restaurante é bom, se tem boa comida..."
Polícia B: "Bem, chegamos.. é já aqui."

E aqui deu-se outro momento constrangedor que foi os dois polícias a fazerem-se de convidados para a paparoca no dito restaurante e eu a fazer-me (ainda mais) de parvo... Quando chegaram à conclusão que não havia repasto para ninguém, ainda estenderam a mão para ganhar umas notas pela ajuda, ao qual aqui o bom Rangelito respondeu com um aperto de mão.

Depois de terem visto que não iam levar nada, despediram-se dizendo: "Existimos para Servir". Então muito obrigadinho aos dois e até à próxima!

Acabámos por ir jantar a um sítio super-turístico na praia, com uns holofotes a iluminar um cargueiro encalhado no areal pois a cozinha do restaurante estava fechada!

Beijinhos e abraços!

Fotos: Ilhéu das Rolas, São Tomé - Agosto 2011

Sem comentários: